TESTEMUNHO DA VOLUNTÁRIA FLORBELA CASTRO.

Quando tomei a decisão de fazer voluntariado, algo que já ansiava a algum tempo não esperava que a experiência fosse tão grandiosa para mim.
Como organizada que tento ser, depois de todos os percalços antes da partida, parecia impossível eu deixar tudo para trás para fazer uma missão de voluntariado.
Parti ao encontro de um povo que me propunha ajudar numa área muito restrita (a medicina dentária), onde os cuidados de saúde primários são escassos.
Quando aterrei pensei – agora estas cá não podes voltar!!!
Recebida de coração pela Irmã Lúcia pensei afinal aqui estou acolhida, só tenho que ajudar como posso.
Os desafios eram constantes apesar de já trazer a informação que poderia acontecer ainda não tinha vivido a realidade, falta internet,falta luz ou falta agua, os banhos de água fresca. O choque de realidade começava a ser assimilado, o povo não tem água em casa, os animais coabitam na rua…a estradas são horríveis. Não há brilho nas habitações, chamam de casas a tábuas  e chapa.
Lavam a roupa no rio, carregam tudo na cabeça e filho nas costas as mulheres.
As crianças caminham descalças, mas mesmo assim partilham um olhar fascinado e um olá entusiasmante.
Estava ali para trabalhar, numa clínica que está totalmente fora dos padrões da realidade que se vive em volta. Às condições são óptimas. A minha chegada é anunciada na igreja nó domingo. Logo na segunda começo a um ritmo acelerado, há tanto para ajudar. Alguns dias começo às consultas às 7h da manhã tentando atender o maior número de pessoas.
Sei que fica tanto e tanto por fazer, eles precisam e eu sinto a impotência de não conseguir fazer mais. Deveria ser continuo e constante a presença de médico dentista, mas infelizmente têm de aguardar o próximo voluntário.
As duas semanas que pareciam muito, passam tão rápido, estou rendida a um povo acolhedor que vivem somente a alegria de estar vivo e nada têm.
Há  crianças com aspecto de subnutrição.
As Irmãs são incansáveis, gerem um projeto que presta assistencia a 3000 seres humanos diariamente e estão atentas a alimentação e colmatam em muito a desnutrição, asseguram uma refeição diária a mais de 2000 crianças não esquecendo as marmitas solidárias num povoado isolado.
Jamais imaginei a grandiosidade.
Afinal o que fiz eu, tão pouco.
Às pessoas parabenizam pela atitude altruísta mas na realidade eu trago mais no coração que tudo o que deixei de alívio de dor e tratamentos dentários.
Fica a esperança de poder voltar. A Missão não acaba aqui…..continua.
Fazer voluntariado não é para qualquer um, mas qualquer um pode ser voluntário. Só temos de fazer a nossa parte, a retribuição e muito maior.
Não saio daqui ‘leveleve’, saio carregada de amor de um povo.
Voltar é palavra de ordem.

Ser voluntário é algo que faz toda a diferença nos dias de hoje. A Beatriz, médica recém-formada, contactou-nos e manifestou a sua vontade de partir até São Tomé e Príncipe. E assim vai acontecer no próximo sábado onde passará o seu Natal em terras africanas. Ela deixa-nos aqui as suas impressões:

Apresentação

Chamo-me Beatriz Santos Rodrigues, tenho 25 anos e concluí recentemente o curso de Medicina, na Universidade NOVA de Lisboa. Durante o tempo de estudante, pratiquei basquetebol e fui escuteira, o que me permitiu ganhar autonomia e espírito de equipa, algo que considero fundamental na minha formação enquanto pessoa e médica.

Quais os motivos que te levaram a fazeres uma experiência de voluntariado?

Desde muito jovem sempre tive grande desejo de fazer voluntariado. Vivemos num mundo onde a riqueza está mal distribuída, onde uns têm tanto e outros tão pouco, e acredito que me encontro numa posição privilegiada, em que posso fazer alguma diferença, ainda que seja pouca.

E porquê São Tomé e Príncipe?

Há cerca de 10 anos fiz uma viagem de férias a São Tomé com a minha família. Claro, ficámos em hotéis, alugamos carros e compramos passeios turísticos. Do outro lado da porta deparámo-nos com o contraste de realidades que é São Tomé – com a pobreza e simplicidade, mas também com a felicidade e gratidão que advém dessa humildade. Desde essas férias que anseio voltar, desta vez do outro lado, e integrar-se e perceber a realidade de São Tomé.

Como conheceste a nossa Associação Abraçar São Tomé e Príncipe?

Através de uma página do facebook.

O que esperas da tua missão em São Tomé?

Espero partilhar um pouco do que aprendi nestes 6 anos de faculdade, mas também trazer de volta uma forma de viver “leve leve”, que me impulsione para um ano de trabalho dificil que se avizinha.

Alguns receios?

Receio não corresponder às expectativas. Ademais, receio não conseguir conciliar as minhas obrigações enquanto voluntária, com o tempo para redescobrir os encantos de São Tomé.