O TESTEMUNHO DA NOSSA VOLUNTÁRIA ANA RITA
Olá a todos,
Gostaria de partilhar convosco um pouco da forte experiência que foi o serviço de voluntariado em São Tomé e Príncipe.
Esta missão deu-me a oportunidade de vivênciar na primeira pessoa a realidade de um povo que tanto sofre e ainda assim tem a capacidade de receber de braços e corações abertos os desconhecidos que por lá passam. Desde o momento em que cheguei senti que o espírito de solidariedade estava a abrir em mim portas a nível de expansão pessoal e espiritual, ensinou-me lições de humildade que vou recordar para toda a vida.
Ir a São Tomé e Príncipe é como recuar 50 anos no tempo, ou quem sabe até mais, este povo vive privado de tudo aquilo que consideramos indispensável nos dias de hoje, a mulher São Tomense é um sinal de força e resistência, todos os dias trabalha de sol a sol, lava loiça e roupas no rio pois não existe saneamento básico, cuida dos inúmeros filhos, coloca na mesa o que consegue. Quanto às crianças, muitas delas andam descalças na rua, ajudam as mães, cuidam dos irmãos mais novos.
Há todo um espírito de entreajuda, todos se conhecem e mal ou bem acabam por partilhar o que têm. É lindo ver o espírito de comunidade e o amor entre irmãos, principalmente os mais novos.
A curiosidade por aquilo que um ocidental representa é também muito forte, perguntam quem somos de onde vimos, gostam de tocar na nossa pele e no nosso cabelo, as crianças são muito carentes, abraçam-nos com imensa felicidade e ternura, querem ficar para sempre refugiadas no nosso calor e na atenção que lhes podemos dar. São assim criados laços fortes e conexões muito difíceis de deixar para trás.
Tive a oportunidade de dar apoio no infantário, de ver como são preparadas as marmitas para distribuir pelas famílias mais necessitadas de Santa Catarina, de ajudar no centro social e também de dar algum conforto aos idosos no lar de São Francisco. Tive uma noção de como funciona o mecanismo que nunca pode parar, todas estas tarefas abriram o meu coração e as minhas perspectivas, nunca tinha tido a oportunidade de interagir em tantas áreas. Ver de perto uma realidade tão dura e tão limitante a todos os níveis fez-me entender e reavaliar as verdadeiras prioridades da minha vida. Fez-me sentir uma enorme gratidão por tudo o que tenho, assentou os meus pés na terra.
O trabalho que tem sido feito na Cidade das Neves é notável e já melhorou muitas vidas, no entanto há ainda muita estrada pela frente, há toda uma necessidade de mudar mentalidades por via da educação, para que possam existir mais profissionais de saúde, professores e técnicos habilitados, esses serão os pilares fundamentais para transformar a economia de São Tomé. O foco deverá ser redirecionado, em vez de querer sair/fugir, deverá haver uma motivação para ficar e criar algo melhor, transformar. Este é provavelmente o maior desafio de todos, pois os problemas são imensos, e o sentimento de impotência é forte, mas acredito que se já conseguimos chegar até aqui, podemos ir muito mais longe.
Queria agradecer a todos os que me apoiaram nesta missão, à “Associação Abraçar São Tomé e Príncipe”, que acompanhou todos os meus passos, e ás “Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição”, nomeadamente a Irmã Lúcia e a Irmã Salomé, que me trataram com muito carinho e me ajudaram em todos os momentos.
Esta foi definitivamente uma das experiências mais marcantes da minha vida, espero um dia conseguir voltar, e quero continuar a apoiar esta causa que é fidedigna, aqui sei que todos os esforços chegam às mãos certas!
Obrigada.
Ana Rita Gomes, Hospedeira de Bordo em São Tomé e Principe
